Ilhas lutam para não afundar
Lendas como a da ilha perdida de Atlântida não fazem mais parte apenas do imaginário humano. O aquecimento global transformou ilhas ameaçadas de desaparecer em um problema concreto.Esse perigo atinge especialmente as chamadas ilhas baixas – ilhas planas, onde quase não há elevações. Nas Ilhas Maldivas, localizadas no Oceano Índico, a sudoeste do Sri Lanka, o ponto mais alto das quase 2.000 ilhas que compõem o país-arquipélago fica a apenas 2,4 metros acima do nível do mar. E se esse nível continuar subindo, como mostram as previsões, muitas ilhas vão se tornar inabitáveis.– As Ilhas Fiji [Pacífico Sul] têm terras altas para onde se podem levar os habitantes, caso a situação se torne crítica. Nós, nas Maldivas, ainda precisamos encontrar uma solução –, explica Ali Rilwan, cofundador da organização não governamental Bluepeace. Prognósticos das Nações Unidas e do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) dão ao país de Rilwan cem anos até que todo o território seja submerso no Oceano Índico.
Os países atingidos reagem de forma diferente à ameaça crescente. Em Tuvalu, no Oceano Pacífico, muitos habitantes já emigraram para a Nova Zelândia. Os maldivos construíram um muro de três metros de altura ao redor de sua capital, Malé. O dinheiro para o projeto veio do Japão, o que torna claro mais um problema: falta dinheiro para a maior parte das nações em ilhas baixas se protegerem contra o aumento do nível dos oceanos.
– Muros não bastam, nós precisamos de soluções de longo prazo – como tornar o país mais alto através de aterro. Existe tecnologia para isso, só que nós infelizmente não podemos pagar por ela –, diz Rilwan.
Como os habitantes de muitas outras ilhas, os maldivos têm medo de se tornarem refugiados do clima.
O presidente Mohamed Nasheed está poupando dinheiro para comprar terras na Índia, no Sri Lanka ou na Austrália, onde os maldivos possam ter um novo lar, caso o pior aconteça. Mas novos problemas estão à espera: a Índia já luta contra o problema da crescente pressão demográfica, e a Austrália prossegue com uma estrita política de imigração. E o principal: os maldivos não têm dinheiro suficiente para comprar terras.
Uma possível solução, ainda no terreno dos sonhos futuros, vem do Japão: a construtora Shimizu, famosa por projetos visionários, planeja construir uma espécie de Arca de Noé chamada de “Jangada Verde”. Ilhas verdes, planas e flutuantes de pouco mais de três quilômetros de diâmetro podem oferecer um novo lar para as populações dos mares do sul. Há um ano, o presidente da empresa apresentou o projeto a alguns representantes das nações de ilhas baixas.
– Embora as terras do nosso país venham a desaparecer, eu estou cheio de esperanças –, diz entusiasmado Anote Tong, presidente de Kiribati, república insular que se estende por inúmeras ilhas da Micronésia e Polinésia, ameaçada de ser uma das primeiras a submergir.
Se a Arca de Noé japonesa vai estar pronta a tempo, ainda é uma incógnita – as obras devem começar entre 2025 e 2050.
Aliança contra o naufrágio
As pequenas nações insulares têm pouco poder econômico para lutar por mais atenção no cenário político internacional. Por esse motivo, 42 países formaram a Aliança dos Estados Insulares (Aosis) para buscar o apoio dos países ricos em sua luta contra a submersão e pelo controle dos níveis de emissão de CO2 na atmosfera.
– Países como Tuvalu ou Nauru não têm culpa do aquecimento global, mas são eles que vão sofrer as piores consequências –, diz o professor Lino Briguglio, do IPCC.
As mudanças climáticas também estão afetando o desenvolvimento dos países em ilhas baixas, que em sua maioria são pobres, acusa a Aosis: grande parte de sua infraestrutura e base econômica está concentrada na região costeira. A costa é assim duplamente uma zona sensível.
Olhando em longo prazo, a única opção para barrar a submersão é interromper ou pelo menos retardar o aquecimento global. Representantes dos países afetados viajam de conferência em conferência para chamar a atenção dos países industrializados, responsáveis pelo aquecimento global.
O próprio mundo industrializado está sofrendo as consequências do aquecimento global: o estado de Louisiana, no sul dos Estados Unidos, é atingido regularmente por tempestades cada vez mais violentas.
As pequenas ilhas Halligen, no norte da Alemanha, são inundadas pelo Mar do Norte várias vezes ao ano. E o aumento no nível dos oceanos ameaça inundar as ilhas completamente – o aquecimento global não liga para supremacia política. A única diferença é que Alemanha e Estados Unidos têm dinheiro suficiente para medidas de defesa.
As Ilhas Maldivas têm uma estratégia diferente. Sua meta é ser o primeiro país neutro em emissões do planeta em 2019. Para isso, um parque eólico já está em construção. Mas a medida não vai salvar a ilha se o resto do mundo não cooperar.
Redação, com DW
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