domingo, 17 de abril de 2011

Construções de fósforos .


O antigo soldador que se dedica às construções de fósforos

No supermercado já sabem por que é que Victor Rato compra tantos fósforos. O artista que mora na Subserra, freguesia de São João dos Montes, concelho de Vila Franca de Xira, ocupa os tempos livres com a construção de pequenos barcos. Alguns dos trabalhos podem agora ser vistos até 24 de Abril no Museu de Alhandra.


Victor Rato mostra o barco à vela que construiu com fósforos, inspirando-se num modelo que encontrou na Secção de Vela do Alhandra Sporting Club. Este é apenas um dos modelos que está na exposição da Galeria Augusto Bértholo do Museu de Alhandra, concelho de Vila Franca de Xira, até ao dia 24 de Abril.
De dentro de um saco, o artesão, 55 anos, residente na Subserra, freguesia de São João dos Montes, concelho de Vila Franca de Xira, tira um caderno para mostrar os esboços que vai desenhando com um lápis. O último é de um castelo que viu na Sortelha, concelho do Sabugal, quando andava a passear. É tudo desenhado a olho nu, mas quem olha para os trabalhos em fósforo do artesão acredita piamente que ali existe muita régua e esquadro. Uma das suas maiores criações é o barco Cutty Sark, usado para o transporte de chá no século XIX. “Encontrei a imagem da embarcação numa garrafa de uísque e comecei logo a trabalhar. Usei perto de 4500 fósforos e demorei um mês até o acabar”, revela. O Cutty Sark de Victor Rato tem 62 centímetros de comprimento e possui uma lâmpada e um interruptor.
Depois de 40 anos a trabalhar como soldador, o desemprego bateu à porta e o artesão voltou-se para a sua arte para ajudar a ocupar o tempo. Tinha pouco mais de 20 anos quando na tropa descobriu alguns colegas que faziam construções de fósforos. Um dos barcos mais antigos que possui tem já 32 anos. O trabalho e um problema de saúde levaram-no a colocar de lado o seu passatempo durante largos anos mas agora regressou em pleno.
Os fósforos que utiliza têm que ser queimados. “Durante uma hora e meia queimo 1000 fósforos e depois ainda os limpo antes de começar a colar”. De cada caixa com 100 unidades que compra aproveita apenas 70 ou 80 porque muitos vêm tortos. É um trabalho dispendioso. No fim de colar os fósforos passa uma lixa, antes de envernizar. No supermercado já conhecem a razão que leva Victor Rato a comprar grandes quantidades de caixas de fósforos.
Além dos esboços que vai desenhando no caderno também se inspira em imagens que vê nos jornais, nas revistas ou na internet. A paixão pela História de Portugal é notória. O Galeão, a nau usada por Vasco da Gama nos descobrimentos, é outra peça que mostra com orgulho. Mas não é só de barcos que vive a exposição. Um helicóptero de 1942 ou um hidroavião usado por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que demorou 170 horas de trabalho e cerca de 7500 fósforos, também embelezam o Museu de Alhandra.
Mesmo a terminar a exposição, encontram-se três moinhos de vento, símbolo da freguesia de São João dos Montes. O detalhe é algo que não escapa ao artesão. Num deles existe uma pequena argola onde se prendiam os animais. Outro exemplo é uma pequena bandeira da Escócia que o levou o artesão levou muito tempo para arranjar mas que conseguiu descobrir com persistência. Victor Rato quer agora criar uma associação de artesãos de São João dos Montes para dar a conhecer o trabalho dos artistas que vivem na freguesia.

por:mirante


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