Radiação Nuclear no oceano é nova dor de cabeça japonesa
As autoridades do Japão ordenaram ontem que sejam levados a cabo testes intensivos à água do oceano Pacífico junto à costa noroeste do país, depois de ontem terem sido registados os primeiros sinais de radioactividade no mar que banha a província de Fukushima - onde uma das centrais nucleares do país tem mantido a comunidade internacional sob alerta perante a possibilidade de um desastre nuclear.Há vários dias a tentar estabilizar os seis reactores de Fukushima Daiichi, a equipa de engenheiros que continua na central conseguiu ontem estender cabos eléctricos até aos reactores, de maneira a restaurar a electricidade em todas as unidades e sistemas de refrigeração. Os reactores têm estado a sobreaquecer desde 11 de Março, quando um sismo de 8,9 na escala de Richter abalou o país, seguido de um tsunami que varreu a costa noroeste nipónica. Hidehiko Nishiyama, porta-voz da Agência de Segurança Nuclear do país, veio afirmar em conferência de imprensa que a ligação dos reactores à rede eléctrica permitirá confirmar se as medidas que estão a ser tomadas são suficientes, considerando "improvável" que a situação volte a piorar.
Apesar da boa notícia, o dia no Japão ficou marcado por novas réplicas e o registo de níveis de radiação 80 vezes superiores ao normal na água do mar. Fonte do governo de Naoto Kan garantiu que os níveis não representam riscos para a saúde humana, mesmo que o peixe e marisco contaminado seja consumido durante um ano. A TEPCO, empresa que opera a central, veio entretanto pedir desculpa à população pela primeira vez desde o desastre. "Lamentamos ter-vos causado tanto sofrimento", disse Norio Tsuzumi, vice-presidente da empresa, em visita a um centro improvisado que alberga as pessoas retiradas das proximidades da central. A admissão de que a central não estava preparada para um sismo como o de 11 de Março surge alguns dias depois de documentos publicados pelo WikiLeaks mostrarem que as condições de segurança nas centrais nucleares nipónicas não estavam actualizadas e apenas resistiriam a sismos inferiores a 7,0 graus na escala de Richter.
Horas antes do pedido de desculpa pela TEPCO, o país voltou a tremer. Três réplicas acima dos 6,4 de magnitude foram sentidas entre Tóquio e Sendai. Segundo o Instituto Geológico dos EUA, que mede a actividade sísmica mundial, o primeiro e o terceiro sismos registaram 6,6 e o segundo 6,4 na escala de Richter. As réplicas voltaram a trazer o receio de mais devastação no país que há 12 dias luta para regressar à normalidade - mas a população estava preparada, já que a Agência Meteorológica do Japão tinha advertido para a possibilidade de ocorrência de novos sismos no Nordeste do país, que se previa que fossem inferiores a 7,0 na escala aberta de Richter e de alertas de tsunami.
O desastre continua a levar vários países a repensar as estratégias de exploração doméstica de energia nuclear. O governo alemão, o primeiro a ordenar a revisão das condições de segurança de todas as suas centrais, reuniu-se ontem para definir regras mais apertadas no sector. No final do encontro, a chanceler Angela Merkel anunciou a criação de uma Comissão de Ética para a segurança nuclear. "A comissão de segurança de reactores vai apresentar uma lista de exigências no final deste mês", adiantou Rudolf Wieland.
por Joana Viana, 23 de Março de 2011 - i
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