domingo, 5 de junho de 2011

Izabel Pimentel / Velejadora

Velejadora passa um mês em alto-mar sem falar com ninguém

 

Izabel Pimentel é a primeira mulher Brasileira a atravessar, sozinha, três vezes, o Oceano Atlântico. 

 

 

A velejadora Izabel Pimentel é uma mato-grossense que há 20 anos decidiu que dominaria mares, do Brasil e de muito longe.
No dia a dia, todos nós temos a capacidade de entrar e sair do estado de solidão. A ciência já comprovou que o "se sentir sozinho", em vários momentos, significa simplesmente ter uma vida saudável. Precisar de tempo para si mesmo e saber a hora exata de se isolar é sabedoria que fortalece o equilíbrio.
Izabel é a primeira mulher brasileira a atravessar, sozinha, três vezes, o Oceano Atlântico. Os jornais da França acompanharam a aventura de Izabel. “O mar é a estrada, o caminho que eu escolhi”, declara a velejadora. Ela escolheu essas águas e sempre sozinha.
Quando esse isolamento exige enfrentar mar aberto por semanas seguidas, em um barco bem pequeno, que tamanho tem essa necessidade de se sentir longe de todos? “Cada um tem uma história, tem uma porção de vida. Eu me sinto bem. Eu já vivi coisas que todo mundo sonha em acontecer”, comenta Izabel.
O entusiasmo dela confirma. Às vésperas de mais uma empreitada, mais uma travessia de oceano, Izabel se prepara como se fosse a primeira vez, faz vistoria rigorosa no veleiro e estoca comidas. “São comidas prontas. São desidratadas. Então, basta colocar água, dois ou cinco minutos, e você já tem uma comida pronta”, revela.


E chega o dia. Na Baia de Guanabara, no Rio de Janeiro, em meio a tantas embarcações grandes, lá estão Izabel e o Petit Bateau, o pequeno único e fiel companheiro para mais uma temporada, de mar aberto, de calmarias e de tempestades até o Caribe.
Pela primeira vez, um intruso fará companhia oculta a Izabel: a câmera do Globo Repórter. Até Salvador, ela fez vários relatos no diário de bordo. Ela tem vigilância implacável, porque a qualquer momento o perigo pode mostrar a cara.
Reza a lenda que velejador solitário dorme só com um olho. O outro fica atento. O despertador é uma parceira e tanto. “Marco o tempo, vou descansar e ele me acorda. Graças a isso aqui, é que eu não durmo, consigo fazer os turnos durante a noite”, declara Izabel.
A vigília é para evitar imprevistos e perigos. Durante a noite, o sono é rápido. De 15 em 15 minutos, ela desperta. “Estava muito cansada e acabei não acordando com o despertador. Quando eu olhei, o navio estava em cima, a 5 ou 10 metros. A reação que eu tive foi de me jogar na água, porque não tinha como. Eu estava presa no cinto. A onda veio e empurrou eu e o barco. E o barco saiu da situação de perigo”, lembra.
No pouco espaço dentro do barco, tudo tem que estar à mão: a água do banho, alimentos e os primeiros socorros. “Eu tenho controle. O médico indica tudo o que eu preciso fazer. Eu tenho a bordo tudo: antibiótico, antiinflamatório. Tenho remédios para dores fortes e leves”, diz Izabel.
Com bons ventos ou com a falta de ventos, segue a velejadora. Será que o tempo custa a passar no meio a tanto silêncio? Em uma das travessias do Atlântico, ela chegou a ficar mais de um mês sem falar com alguém em terra. No diário de bordo do Globo Repórter, Izabel comenta: “Aproveitei e terminei um livro. Peguei outro para ler. E a gente vai levando a nossa vidinha aqui no nosso Petit Bateau”.
Para Izabel, solidão e mar é uma combinação perfeita que harmoniza corpo e alma. “De repente, você está sozinha literalmente. Mas aí eu descubro que o tempo todo eu não estou sozinha, porque eu tenho um personagem que está ali junto, o protagonista da história, que é o meu barco”, declara a velejadora.

Por:Globo/Beatriz Thielmann

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