Para além da Arquitectura , o formato de proa depende acima de tudo , do uso que o Barco terá !
Você já reparou como, ultimamente, as proas de alguns veleiros e lanchas passaram a ficar perpendiculares à linha d’água, ou mesmo com a parte inferior mais lançada, em um ângulo invertido? Pois mais do que um simples modismo ou mera tentativa de dar aos barcos um perfil mais agressivo, estas novas e incomuns formas de proa revelam uma tendência, mas — atenção! — isso não quer dizer que você deva colocar isso como ponto básico na hora de escolher o seu próximo barco. Há, afinal, razões técnicas e não apenas estéticas para cada tipo de proa. “Inovações são sempre bem-vindas, desde que adotadas com critério”, adverte Márcio Schaefer, projetista dos barcos da Schaefer Yachts. “O mesmo tipo de proa que melhora o comportamento de um barco na água pode arruinar o desempenho de outro, dependendo do modelo”, diz.
“O mais importante é garantir, em qualquer caso, uma boa reserva de flutuação para o barco”, acrescenta o projetista, que se preocupa principalmente com o conforto a bordo na hora de definir as linhas de uma proa. Como todo navegante tarimbado sabe, o formato da proa deve ser definido ainda na fase do projeto e de acordo apenas com o uso para o qual o modelo se destina. Cada tipo exige um desenho diferente, em função, principalmente, do tipo de nagevação que ele terá. Caso você queira, por exemplo, apenas passear com uma lancha cabinada, com flybridge, acima dos 40 pés, uma proa mais arredondada aumenta consideravelmente o conforto a bordo, uma vez que esse tipo de barco é projetado para navegar em águas costeiras. Já se o objetivo for pescar em mares mais abertos, o melhor é uma proa mais afiada. Antes de escolher o desenho, portanto, é preciso definir o uso que o barco terá. Veja abaixo algumas características de cada formato.
Proa com bulbo
Típica proa de cascos deslocantes, como navios e trawlers. Nela, o bulbo fica um pouco abaixo da linha d’água, o que reduz a resistência e, consequentemente, aumenta a velocidade, além de diminuir o consumo de combustível. Esse bulbo, contudo, pouco interfere na capacidade do casco de enfrentar mares agitados.
Multicascos com proas wave-piercing
Como o nome indica (“wave-piercing” quer dizer algo como “furar a onda”), este tipo de casco faz com que a proa mergulhe nas vagas, tal qual as proas invertidas. Os barcos que utilizam esse conceito geralmente são trimarãs, cujos cascos laterais são mais esguios, enquanto o central é bem volumoso e, quase sempre, fica fora d’água.
É a típica proa das lanchas de lazer, usada também em alguns navios. Seu formato, em V, ajuda a amortecer o impacto das ondas. Com o barco planando, o bico lançado diminui a resistência à água. Em caso de mar agitado, esta característica também evita que o casco mergulhe nas ondas.
Proa lançada para veleiros
Típico dos barcos a vela mais antigos, este formato já caiu em desuso. A grande inclinação na proa garante bom desempenho em mar aberto, mas diminui o comprimento de linha d’água e limita o espaço na cabine de proa.
Proa lançada em V, com flare
Variação da proa lançada em V, é mais usada em lanchas de pesca em alto-mar. Debaixo d’água, o V do casco é bem acentuado, mas na parte superior assume uma curva lateral invertida, ou seja, abaulada para fora, para direcionar a água de volta ao mar, mantendo o barco mais seco. Em virtude do grande volume de casco acima da linha d’água, o barco dificilmente mergulha em ondas maiores.
Proa recta ou pouco lançada
Formato da proa das lanchas mais antigas e, curiosamente, também de algumas ultramodernas, como as dos estaleiros Wally e Zonda. Inspiradas nos veleiros da classe IMS, estas proas deixam o casco mais veloz, mas levam o barco a mergulhar em alta velocidade, pois não têm muito volume.
Proa invertida
É desenhada para furar a onda, em vez de escalá-la, o que resulta em um navegar mais suave, porém molhado. É usada em alguns barcos militares e em raros barcos de cruzeiro. Um casco com esta proa exige que a área habitável do cockpit seja localizada o mais próximo possível da popa, já que a parte da frente é lavada constantemente.
Por: Sergio Rossi / Revista Nautica